Ecossistemas de inovação, via de regra, têm muitas dificuldades em se manterem fortes por muito tempo. Como garantir mecanismos de governança sustentáveis para um ecossistema de inovação?
O conceito de ecossistema de inovação não é novo: ambientes onde a inovação consegue florescer existem há muitos anos. O que talvez tenha mudado, e muito recentemente, é a compreensão de como esses ecossistemas podem ser construídos e alimentados, e a compreensão de como os gestores desses ambientes podem desenvolvê-los (JOHNS, 2016) e, principalmente, mantê-los sustentáveis.
A capacidade de inovação é a capacidade de um lugar – uma cidade, região ou nação – abrigar o desenvolvimento de ideias novas para o mundo e de levá-las da concepção ao impacto (seja econômico, social, ambiental ou outro). Portanto, a capacidade de inovação abrange não apenas o desenvolvimento de ciência básica e pesquisa, mas também a atividade de fazer com que essas soluções gerem produtos, serviços e tecnologias úteis, que realmente colaborem para a solução de problemas.
Mas um ecossistema não se desenvolve somente com ações intensivas em conhecimento e inovação. É preciso também que o território tenha a chamada "capacidade de empreendedorismo", aquela que diz respeito ao potencial empreendedor dos atores e ao ambiente de negócios para a formação de novas empresas, desde os primeiros estágios de startup, passando pelo ganho de escala (scale-up), até a formação de grandes empresas. Embora essa capacidade apoie todos os tipos de empreendedorismo, levando na maioria das vezes à formação de micro e pequenas empresas tradicionais, os aspectos do empreendedorismo que são de maior interesse são aqueles voltados à inovação, concebido para apoiar o crescimento de empreendimentos inovadores em um lugar específico – uma cidade, região ou nação.
A combinação das capacidades de inovação e de empreendedorismo dentro de uma determinada cidade, região ou nação é que produz negócios orientados para a inovação de alto impacto, que são um motor crítico para a geração de novas soluções para problemas importantes, para a geração de emprego e renda e, em última instância, para alavancar a prosperidade econômica e social do território.
Mas, como garantir mecanismos de governança sustentáveis para um ecossistema de inovação?
Dez etapas para a governança sustentável de um Ecossistema de Inovação.
1. Mapear os atores do ecossistema de inovação.
Quem são os atores e entidades que já estão envolvidos (ou que poderiam estar) para viabilizar as capacidades de inovação e empreendedorismo no território?
2. Identificar interesses.
Quais os reais interesses dos atores e entidades que estão envolvidos no ecossistema?
Adner (2006) menciona que cada um dos atores apresenta interesses particulares e, muitas vezes, até conflituosos com os interesses de outros atores, surgindo assim, a coopetição, em que atores de um mesmo ecossistema cooperam, por meio da interação, para gerar valor e também entre si, pela captura ou apropriação desse valor.
3. Promover sinergia e colaboração.
Conhecendo os interesses de cada parte envolvida, fica mais fácil de promover sinergia e senso de colaboração entre pares com interesses convergentes e também sinergia e coopetição entre atores com interesses conflitantes.
Uma das características de um ecossistema de inovação, conforme relatam Jischnu, Gilhota e Mishra (2011) é o realinhamento contínuo de relações de sinergia entre os participantes, recursos e conhecimentos que levam ao desenvolvimento harmonioso do sistema, como rápida resposta às mudanças das forças que operam interna e externamente.
4. Melhores projetos e decisões.
Atores e entidades atuando em sinergia e com senso de colaboração, tomam melhores decisões e são protagonistas de melhores projetos.
5. Maior confiança no ecossistema.
Um ambiente de sinergia e colaboração, onde brotam projetos com cada vez mais impacto, naturalmente tem a confiança da sociedade.
6. Advocacy pelo ecossistema (proteção)
Com a confiança no ecossistema em alta, a tendência é que a defesa e o senso de proteção aumentem.
7. Apoio e melhores resultados
Um ecossistema confiável e protegido, atrai cada vez mais apoio de tomadores de decisão, gerando cada vez mais resultados.
8. Mais investimentos
Com mais apoio e resultados, aumentam os investimentos.
Na visão de Spinosa, Schlemm e Reis (2015), a implementação de ecossistemas de inovação pode gerar inúmeras vantagens aos seus atores, conforme seus interesses. Os autores mencionam ainda que, nas regiões que resolveram induzir os ecossistemas de inovação, a atratividade para novos negócios e investimentos tem aumentando de modo significativo. Ademais, com a criação de um ambiente dinâmico gerador de riqueza e emprego, expande-se a capacidade de atração e retenção de talentos.
9. Mais impacto para a sociedade.
Mais investimento, mais projetos, mais ações, mais atração e retenção de talentos, mais impacto para a sociedade.
10. Atração de mais atores.
Quanto mais impacto para a sociedade, novos atores e entidades se interessam em participar. A partir daí o ciclo recomeça com o mapeamento dos novos atores, levantamento dos seus interesses e promoção da sinergia.
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